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9 de agosto de 2012

Um Dia de Cinderella... Flash!






Cinderelas e cinderelos em ação pelas lojas de São Paulo, Londres, Paris e Nova York



Protestar contra a ditadura da moda. Esse era o objetivo da artista plástica cearense Tetê de Alencar quando resolveu se fotografar na cabine de uma loja vestindo uma peça cara. A jovem, radicada em Londres, estudava mestrado quando começou o projeto Cinderella Flash. Começou tirando fotos próprias, sempre vestindo de festa, tipo "cinderela", e com a máquina posicionada de uma forma que o flash não revelasse seu rosto. "O véu das fotos, o flash, é um espaço para os rostos de todas nós", conta Tetê.

A proposta permanece mesmo após 10 anos da primeira foto ter sido tirada. Com o tempo, outras mulheres se engajaram no projeto da artista e munidas de máquinas fotógraficas descartáveis, marcharam rumo às lojas que dão preferência às mulheres magérrimas e de alto poder aquisitivo.

O sucesso foi tanto que a galeria Oriel Mostyn, do País de Gales, e o British Council financiaram a primeira exibição do Cinderella Flash. Com a boa repercussão das fotos, a galeria resolveu financiar novamente o projeto, só que desta vez nas capitais Nova York e Paris. E agora, é a vez dos brasileiros serem os "cinderelos" e "cinderelas".

Leia a entrevista que Tetê concedeu ao Moda Com Arte e descubra mais sobre o projeto:

De onde surgiu a ideia de se fotografar nos trocadores?
Eu estudava mestrado em Londres e para descansar das várias horas que passava no estúdio, saía para andar pelas ruas e ver roupas. E um dia eu fui esnobada em uma loja e resolvi tirar uma foto de mim dentro da cabine vestindo a roupa. Por cinco anos, eu tirava foto sozinha e a partir de 2008, passei a convidar as pessoas a me acompanhar. E quando o British Council e a [galeria] Oriel Mostyn passaram a financiar o projeto, as mulheres engajaram-se porque se identificaram com a proposta. Daí eu ganhei novamente a bolsa para o projeto, mas era para comparar as diferenças entre Nova York e Paris. 

E por que resolveu trazer o Cinderella Flash para São Paulo?
No ano passado eu expus no Museu Afro e percebi a reação dos brasileiros, que entenderam a proposta. E agora eu vim para expor com a Claudia Casarino, uma artista paraguaia [elas estão em cartaz com Visíveis e Invisíveis, também da Paralelo Gallery] que faz uns trabalhos com as roupas da filha, e quis encerrar a exposição com o Cinderella Flash.

Como foi a adesão dos paulistas?
Nossa, foi demais! Tivemos uns 70 participantes e na noite da inauguração tivemos que distribuir mais máquinas, porque a procura foi muito grande. Até os homens adoraram a também se engajaram e quiseram virar cinderelos (risos)! Aqui na galeria temos cerca de 200 fotos. E a participação não acaba aqui: as pessoas querem continuar e colocar as fotos num blog.

E como é o processo de produção? Você faz um treinamento com os voluntários?
Sim, tem um treinamento rápido. As pessoas recebem uma câmera descartável porque todos conseguem operar essa câmera, né? Também passo os endereços das lojas, peço para tirar foto na vertical com a máquina no rosto, com o olho no buraquinho como se fazia antigamente, sabe? E também explico os procedimentos, porque tem que tomar cuidado para não ser pego.

Já aconteceu de alguém ter problemas em tirar fotos?
Já. Aqui em São Paulo uma menina foi pega e o vendedor brigou com ela. Ela chegou na galeria assustada.

Mas tiraram a máquina dela?
Não, não podem fazer isso. Se fosse uma máquina digital, poderiam pedir para apagar, mas como é descartável, não podem fazer nada. Eu mesma fui pega em Paris, na Yves Saint Laurent! A vendedora também ficou brava e fui expulsa da loja. Mas saí com a foto (risos).

Quais as diferenças que você percebeu entre as cidades?
Não notei diferenças nas reações, mas percebi que os brasileiros são mais criativos na hora de tirar fotos e entram sem medo nas lojas, independente dos voluntários terem dinheiro ou não. Mas os vendedores mais tranquilos são os de Nova York e os mais difíceis são os de Paris, que se você não veste tamanho 0 [equivalente ao PP] já te olham estranho.

Você acredita que pelo fato dos brasileiros serem vaidosos a pressão por ter o corpo perfeito e estar sempre na moda é maior?
Essa preocupação está se globalizando, mas a pressão no Brasil ainda é maior com o corpo. Agora que as marcas internacionais, como Prada, estão no País e não é mais preciso ir até a Europa para comprar, os brasileiros acabam comprando mais roupas de grife, gostam de pagar para ter. Não sou contra a moda, mas contra a ditadura da moda que diz o que tenho que vestir, o que tenho que comprar, que cor tenho que usar...

E como é expor no Brasil?
Surpreendente! Porque o brasileiro entendeu muito rápido o projeto e aderiu logo. Mesmo as pessoas com mais dinheiro entenderam a proposta, que é: a mulher tem que chegar ao número mínimo para se enquadrar no padrão da moda.

Você pretende levar o Cinderella Flash para outras cidades?
Quero expandir e penso muito no Rio de Janeiro, queria envolver a Daspu. Também quero ir para a Argentina, Japão... Acho que quanto mais diferente for o país, mais estranhas serão as reações.

Serviço
Cinderella Flash e Visíveis e Invisíveis
Paralelo Gallery - Rua Arthur de Azevedo, 986 - Pinheiros - São Paulo
Ambas ficam expostas até dia 18 de agosto
De segunda a sexta-feira, das 11h às 19h; sábado das 11h às 15h
Entrada gratuita

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