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8 de março de 2013

Biojoias Transformam Vidas de Jovens Artesãos



Casca de coco e piaçava são alguns dos materiais naturais usados para a confecção das peças


No Dia Internacional da Mulher, dentre tantas dezenas de mulheres que lutam diariamente para sustentarem sozinhas suas famílias, estudam, trabalham dentro e fora de casa, brigam por igualdade salarial, fazem valer seus direitos, zelam pela qualidade de vida alheia e ainda conseguem manter a ternura, a vaidade e o sorriso no rosto em meio a uma realidade tão dura e machista, escolhi Geisa Jesus dos Santos para representar a mulher Moda com Arte.

Com 31 anos de idade, solteira e estudante de Turismo, essa bahiana descobriu a arte de criar acessórios de moda por meio da vegetação local do Baixo Sul da Bahia. A partir da casca do coco, da fibra da piaçava, da madeira da pupunha, de sementes locais e até do chifre bovino, Geisa ensina jovens das comunidades da região a criar colares, anéis, pulseiras e brincos a partir desses materiais.

Geisa descobriu essa arte, chamada de biojoia, por meio da Cooperativa das Produtoras e Produtores Rurais da Área de Proteção Ambiental do Pratigi (Cooprap) e do Instituto de Artesanato Visconde de Mauá. A ex-vendedora de motos foi uma das beneficiadas dentre outros moradores do Baixo Sul por esse projeto de capacitação da Cooprap. A cooperativa faz parte de um projeto social chamado Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com Sustentabilidade do Mosaico de Áreas de Proteção Ambiental do Baixo Sul da Bahia (PDCIS) que visa contribuir para a construção de uma classe média rural  a partir do desenvolvimento sustentável e aproveitando o patrimônio ambiental da região. Dessa forma, os jovens são incentivados a permanecerem em suas comunidades e têm a oportunidades de desenvolverem seus talentos. No caso, as peças artesanais, como bolsas, cestas, luminárias, mandalas e claro, as biojoias.

Os produtos são comercializados por Tok&Stok, Walmart, GBarbosa e Ebal. E até o fim do ano as biojoias poderão ser adquiridas em todo o País através da loja virtual do projeto. Toda a renda gerada com a venda dos produtos e das biojoias é revertida para as comunidades quilombolas  e ribeirinhas que, diariamente, reescrevem sua história. 

Qual a importância da biojoia na sua vida?
Através das biojoias conheci outras pessoas, outros lugares. Viajei e aprendi muito. Hoje pago a minha faculdade de Turismo graças à biojoia. E quando me formar pretendo conciliar o aprendizado que adquiri na faculdade com a produção das biojoias. Quero continuar a trabalhar com as comunidades e associar esse artesanato com o turismo da região.

Como você começou a fabricar as biojoias?
Comecei através do projeto de capacitação da Cooprap e do Instituto Visconde de Mauá. Já comecei com as biojoias e não larguei mais. Hoje coordeno o projeto de capacitação de jovens de comunidades,  quilombolas em sua maioria porque existem muitas nessa região. O projeto tem o apoio do Oi Futuro e por um ano, vou poder acompanhar os jovens dessas comunidades.

Quantas comunidades são?
São três comunidades, sendo duas quilombolas: a Lagoa Santa e Jatimane. E uma ribeirinha, da região do São Francisco.

Hoje, quantas pessoas confeccionam as biojoias?
São três artesãs-instrutoras e 18 alunos, jovens dessas comunidades que falei.

Geisa (à esquerda) ensina uma das jovens do programa a confeccionar as biojoias


E quando você começou no projeto?
Comecei a capacitação, que é um treinamento, em 2010 e no ano seguinte lançamos a primeira linha de biojoias.

Antes do projeto com o que você trabalhava?
Trabalhava em uma concessionária de motos. Mas já fiz velas artesanais, fuxico, colares de miçangas e outras ornamentações...

Então você já tinha trabalhado com acessórios?
Sim! Sempre gostei e quando comecei a fazer biojoias, não larguei mais. Nunca consegui desistir desse sonho. Sou persistente.

A casca do coco e a fibra da piaçava são os principais materiais que vocês usam na confecção das biojoias. Vocês também utilizam outros materiais?
Sim. Além do coco e da piaçava, usamos as sementes da região, madeira da pupunha que também tem bastante por aqui e osso e chifre bovino. No começo trabalhamos com a combinação casca de coco e prata. Mas paramos porque a nossa demanda é muito grande e a prata exige mais tempo de confecção. E como fazer peças com os outros materiais é mais rápido, optamos por parar de mexer com a prata.

Mas o uso desses materiais não degrada a natureza, uma vez que vocês têm que extrair essas matérias-primas?
Não degrada a natureza porque usamos materiais que já foram descartados pela própria natureza. Pegamos as sementes do chão, os cocos que caíram das árvores, os restos das fibras de piaçava que sobram da fabricação das vassouras pela Indústria Cidadã [outro projeto da Cooprap]... Na verdade, reaproveitamos esses materiais.

Onde você busca inspiração para criar as peças?
Busco inspiração na identidade da região. Como temos ascendência africana devido aos quilombos, procuro me inspirar nessa cultura.

E como é o processo de criação? Você desenha a peça antes de confeccionar ou a partir do material a ideia surge?
Não, eu tenho que desenhar no papel para saber qual material vou usar, até para dar harmonia à peça.

As biojoias são exclusivas?
Tem peças exclusivas e tem peças que produzimos em larga escala. Geralmente, quando a peça é mais detalhada ela é exclusiva.

Quanto tempo demora para confeccionar uma peça?
Eu faço um anel, por exemplo, em meia hora. O colar é mais trabalhoso e demora, às vezes, mais de um dia.  Mas isso depende da peça, se tem muitos detalhes ou não.

Como as pessoas fazem para comprar as biojoias?
Pelo departamento comercial da Cooprap ou nas lojas que revendem nossos produtos. As biojoias são vendidas na Casa da Vila - na Vila Madalena - e no aeroporto de Congonhas, em São Paulo; no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro; e no Instituto Visconde de Mauá, em Salvador. Participamos também de muitos eventos e feiras com o Sebrae e de feiras internacionais com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). E agora estamos montando o nosso site onde será possível comprar as nossas peças. Vamos vender para todo o Brasil.

Na sua opinião, o que nas biojoias chamam mais a atenção?
É o design das peças e a história dos produtos, das matérias-primas. Por isso, procuro ter um design diferente nas minhas peças.

E qual a peça preferida dos consumidores?
Os anéis de coco.

Qual a média de preço desses anéis?
Assim como os brincos, eles custam, em média, R$ 16. E os colares R$ 35, em média. Prezamos pelo comércio justo. E o dinheiro arrecadado com a venda dessas biojoias vai para os jovens participantes do projeto.

Serviço
Cooprap Pratigi
https://www.facebook.com/cooprap.pratigi

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